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O Herói Provisório

Romance histórico baseado no Episódio Cormoran, Ilha do Mel, Paranaguá/PR, 1850. Através de vigoroso painel histórico e humano, expõe o borramento da fronteira entre a historiografia oficial e a ficção

FOTO: ALAN ROMERO

“Etel sabe que escrever um romance é questão cosmológica. Esse Brasil do século XIX no qual mergulhamos é feito de concretudes. Sua linguagem não perde o ritmo. É caudalosa, generosa, inesgotável.”

Roberto Gomes, sobre O Herói Provisório

ILUSTRAÇÃO DO ENFORCAMENTO DO ESCRAVO SEBASTIÃO, 1841. AUTOR DESCONHECIDO

…Dos seis aos vinte e um anos, nada lhe aconteceu de notável, exceto ter sido levado pela madrinha para assistir à execução de um escravo por enforcamento. Engoliu em seco a essa lembrança. Foi a primeira vez que padeci com um pesadelo que até hoje me acompanha, Tristão. No sonho, aterrorizante, brotavam nuvens de mamangavas do solo sob o cadafalso de onde pendia o negro enforcado. Essa imagem das vespas pretejando o céu, o zumbido estarrecedor, voltou a atormentá-lo desde os primeiros combates de que participou, e o acompanhou pelo resto da vida, todas as vezes em que teve que encarar a morte. Ainda dessa vez calou o conteúdo de horror daquele sonho recorrente.

Outro acontecimento desse período, mas que causou menos comoção a Joaquim do que o enforcamento, foi a partida da moleca Jerônima, junto com outra comitiva. Assim como veio, foi embora. A senhora Alfa proibiu que se pronunciasse o nome da ingrata dentro de casa, e assim o assunto foi prontamente esquecido…

SLAVE SHIP, WILLIAM TURNER
“…sabe-se que a pintura causou profundo impacto na alma inglesa. Turner fixou nesse quadro os momentos em que Luke celebrizou o seu Zong. Com fortaleza e cuidado, ciência e método, em três dias consecutivos, este comandante atirou ao mar, nas águas do Caribe infestadas de tubarões, cento e vinte e dois escravos, escravas e escravozinhos mais miúdos, mãos e pés atados…”
PEDRA DE LASTRO | CALÇAMENTO DA LADEIRA DA FONTE DA GAMBOA | ETEL FROTA – PARANAGUÁ, 2013
“…reuniram os sobreviventes, escolheram os que ainda se mantinham de pé − Ignácia entre eles − e os fizeram descarregar ali, ao pé da Fonte, as pedras sobre as quais tinham viajado. Devido serem os pretos uma carga leve e móvel depositada nos porões, pedras de tamanhos diversos eram carregadas como lastro para o navio, que firmavam o equilíbrio durante a navegação. As pedras que serviam de lastro eram para calçar as ruas de Paranaguá…”