A letra da canção, essa uma coisa.
A melodia, essa outra coisa.
A canção, ela mesma, essa terceira coisa, que não é mais a uma nem a outra, embora continue sendo ambas.
Só se viu caso parecido com o dogma da Santíssima Trindade.
Assim, equilibrada no vértice desse mysterio, pratico minha carpintaria, lado a lado com meus parceiros musicais. Lyras e letras a serviço da canção.
Têm sido várias as arquiteturas dessas construções: letras escritas para melodias acabadas, letras acabadas que receberam melodias, letras escritas tomando de empréstimo versos de outros poetas ou emoções dos parceiros, letras escritas a quatro, a seis mãos. Em comum, o fato de que têm resultado geralmente em casos de amor consumado entre compassos e palavras – corpos que se entrelaçam tão intimamente, que acaba ficando difícil saber ao certo quem é quem.
No dia 5 do mês 5 deste ano, completo 55 anos. O repertório inicial deste Lyricas era de setenta canções. Após o processo de seleção do material eprodutível, no qual tive que abrir mão, tristemente, de algumas das canções, eis que a contagem final do material editorado resultou em… 55 canções. Quem sabe ocorra a algum estudioso dos fenômenos numerológicos o desejo de tentar explicar esta coincidência. Da minha parte está tudo certo, as contas fecharam, rendo-me a mais este mysterio e alegremente entrego mais esse filho ao mundo.
Um filho destes não seria feliz se nascido de parto normal ou se criado em casa convencional. Com a mais genuína alegria, que só a liberdade e a anarkhía são capazes de proporcionar, deito estas Lyricas no berço-chaos da Internet, e abro as portas à visitação.
Seja bem-chegado.
Etel Frota