Romance histórico baseado no Episódio Cormoran, Ilha do Mel, Paranaguá/PR, 1850. Através de vigoroso painel histórico e humano, expõe o borramento da fronteira entre a historiografia oficial e a ficção
Foto: Alan Romero
“Etel sabe que escrever um romance é questão cosmológica. Esse Brasil do século XIX no qual mergulhamos é feito de concretudes. Sua linguagem não perde o ritmo. É caudalosa, generosa, inesgotável.”
“...era um Joaquim, de sobrenome Ferreira, baptizado na data que o Historiador Davi Carneiro registrara como a de nascimento do herói. Era o que de melhor eu encontrara ao longo da peregrinação desses anos todos. Decidi que estava encerrada a minha pesquisa com relação à ascendência do herói e decretei que, se informação não havia, ficava o Narrador autorizado a construir para Joaquim uma infância de filho bastardo de Leonardo, o legítimo pai de Januário da Cunha Barbosa. Ele assim o fez, embora não sem os pruridos éticos que teve a prudência de relatar na sua crise de consciência...”
...Frei Tristão trocava algumas palavras com o Gordo Léo, enquanto esperava que chegassem seus dois interlocutores de todos os domingos. As pecaminosas horas de ócio de Lord Byron, naquela tarde já distante do seu reencontro com os livros, tinham sido apenas o começo. Ao longo do último ano, desde a primeira vez em que se sentara ali, uma significativa parcela do index prohibitorum passara pelos tampos sujos das mesas da taberna.
Já no domingo seguinte àquele primeiro, a curiosidade vencera a letargia e os escrúpulos e o sacerdote, mal terminado o almoço – um prato insosso, idêntico ao dos doentes da Santa Casa, que comia sozinho, sentado na beirada da cama – tornou a descer a ladeira para se sentar à frente do poeta Manoel da Fonseca...
"...reuniram os sobreviventes, escolheram os que ainda se mantinham de pé − Ignácia entre eles − e os fizeram descarregar ali, ao pé da Fonte, as pedras sobre as quais tinham viajado. Devido serem os pretos uma carga leve e móvel depositada nos porões, pedras de tamanhos diversos eram carregadas como lastro para o navio, que firmavam o equilíbrio durante a navegação. As pedras que serviam de lastro eram para calçar as ruas de Paranaguá..."